
*Por Marcelo Pimenta
Como as grandes empresas podem disputar mercado com novos líderes como Uber, Netflix, YouTube, Facebook, AirBnb, DropBox? O estrategista militar Sun Tzu, 500 anos antes de Cristo, ensina na Arte da Guerra: se você não pode vencê-los, una-se a eles.
Foram as startups que incorporaram no seu dia-a-dia abordagens, ferramentas e metodologias que hoje são fundamentais no processo de inovação dos negócios.
Podemos citar algumas como o design thinking, o canvas do modelo de negócio (e depois o canvas da proposta de valor), as metodologias ágeis, o growth hacking, o MVP, o desenvolvimento do cliente, a startup enxuta…
Claro que existiam algumas empresas (as mais inovadoras) que já utilizam e continuam usando essas práticas no seu processo de gestão, desde que elas foram criadas – e estão colhendo os frutos positivos dessas escolhas.
Além das ferramentas, existem temas que são da cultura empresarial – que foram consolidados pelas startups – e que hoje podem ser “copiados” por toda grande empresa que quer competir, sobreviver e vencer essa “guerra”. Cito alguns exemplos:
– Equipes enxutas – Jeff Bezos, lendário fundador da Amazon, conta que, para executar qualquer projeto, forma uma equipe do tamanho máximo de duas pizzas que possam alimentá-los.
Isso mesmo, não há um número definido, mas é um número de pessoas que fica entre 5 e 9 pessoas, não mais que isso. E estamos falando de projetos muitas vezes grandiosos, como conceber uma nova versão do Kindle.
Portanto, mesmo se o projeto for gigante, não crie times enormes. Se for o caso, “fatie” o projeto e faça por fases mas nunca confie numa equipe com mais de 10 pessoas.
– Estrutura horizontal – Menos hierarquia, maior autonomia e velocidade na tomada de decisão. Revise estruturas formadas por departamentos, gerências, diretorias, superintendências, vice-presidências…
O NuBank, é um exemplo disso. Lá os times são organizados em “squads” (ou pelotões, em português), que tem entre 10 e 50 pessoas, e devem resolver todos seus problemas internamente.
Por exemplo, a área de análise de crédito é formada por analistas financeiros, designers, programadores, marqueteiros, tudo que trata de análise de crédito é resolvido ali, não precisa pedir nada para outros departamentos.
– Valorização de profissionais com carreira em T – Cada vez existe menos espaço para profissionais super especializados. O perfil do novo profissional não é nem apenas um generalista nem um especialista.
É preciso que o profissional tenha uma abrangência de conhecimento sobre vários assuntos mas tenha uma profundidade em um, que faça com que ele seja reconhecido como expert em determinando assunto.
– “Experimentar é o novo planejar” – A consagrada revista Fast Company lançou este artigo em 2012 – “Experimentation in the new planning”. É como se fosse um manifesto pró-experimentação.
Em um mundo em que o número de variáveis é cada vez maior, o controle sobre as coisas é cada vez menor e as mudanças são cada vez mais disruptivas, melhor do que ficar planejando, planejando, planejando é planejar rápido e testar o quanto antes.
Pois esse teste vai gerar muito aprendizado e trazer poderosos insights para que você possa executar com maior confiabilidade. O Lean Startup bebe dessa fonte. Assim como o mestre Steve Blank, que ensina que “não existem fatos dentro de casa”.
– Não ter medo de errar – Não há como fazer algo realmente novo sem errar. Ninguém faz nada pela primeira vez e acerta. Por isso é preciso que você abrace a cultura da prototipação e consiga aprender com os erros.
Aqui é importante que se diga: não se deve confundir erro com negligência, incompetência, desleixo, preguiça. Você deve fazer o seu melhor, tentando acertar. E estar preparado para eventuais erros.
Também é bom deixar claro que, muitas vezes, você precisa de um ambiente controlado para errar. Não é aceitável que um médico erre numa cirurgia nem um ator não saiba o texto numa grande estreia – é preciso aprender a criar situações onde o erro é permitido.
– Criar um ambiente de trabalho maravilhoso – Muitos profissionais vão passar a maior parte de sua vida adulta dentro de um escritório. Não há motivos para que esse ambiente seja insalubre, escuro, chato, desinteressante.
Por isso, empresas como o Google e Facebook criam espaços abertos, sem divisórias. Neles são oferecidos, além de local de trabalho, áreas para alimentação, esporte, lazer.
Claro que isso muitas vezes só é possível em grandes empresas, mas mesmo em pequenos espaços, assim como em coworkings, é possível criar um ambiente bacana para se trabalhar.
– Liderança criativa – Não há mais espaço para o chefe autoritário e mandão. É preciso desenvolver e cultivar um novo estilo de liderança tão comprometido com os resultados, quanto com o bem-estar de sua equipe. Que seja capaz de usar o pensamento sistêmico e a liderar para fazer acontecer (já escrevi sobre esse tema aqui).
– Propósito em resolver problemas – Talvez o mais importante deles. Criar negócios que resolvam problemas reais das pessoas. O AirBnb é um sucesso, pois permite que os viajantes tenham experiências incríveis em todo o mundo, fugindo da impessoalidade dos hotéis.
O DropBox facilita a vida, deixando acessíveis os arquivos onde quer que você esteja. O Uber nos livrou do monopólio dos táxis. Todas essas empresas cresceram e se tornaram bilionárias, pois se dedicaram a criar um modelo que melhora a vida de seus usuários – e não porque buscaram o lucro como principal objetivo.
Apaixone-se por resolver o problema e não pela solução que você criou.
*Menta (Marcelo Pimenta) é jornalista com formação em marketing. Um dos precursores do empreendedorismo digital no Brasil, professor de inovação da pós graduação da ESPM, sócio da Conectt e do Laboratorium e criador do blog www.mentalidades.com.br.
Fonte: https://startupi.com.br
Faça um comentário